27.4.09

Sonhos Nas Nuvens



Onlive(1): a conversa do momento. É ver críticos e fãs vestirem a pele de videntes, prevendo sucesso sem precedentes ou desgraça épica. Mas que ilações se podem tirar de anúncios como este? Qual é a big picture no meio disto tudo? A resposta, a seguir ao intervalo...

O que foi mais notório no anúncio do Onlive foi a reacção dos gamers. Acreditando ou não na possibilidade prática de um serviço como o que foi proposto, notou-se em (quase) todos uma admiração pelo conceito. Sejamos francos, o Onlive representa uma utopia demasiado boa para ser real. É como se alguém chegasse hoje ao mundo da política, cimentado com regras amadurecidas durante séculos e dissesse que tinha em mãos uma fórmula para fazer valer o comunismo, sem quaisquer tipo de contrapartidas. Porque todos nós (gamers), em algum momento, idealizámos um mundo sem concorrência, onde o meu jogo "funcionasse" sempre no sistema do vizinho e onde pudéssemos falar de uma experiência de jogo, como se fosse um programa de televisão passado numa estação a que toda a gente tinha acesso. Há uns anos atrás fui possuidor de uma N64. Lembro-me, nessa altura, de ser das consolas mais difíceis de defender em discussões, ou de convencer um vizinho/amigo a comprá-la - e sim, eu nesse tempo ainda era dado a fanboysmos - e no entanto a qualidade da consola era (e ainda é) inegável. Para mim foi penoso passar por uma geração onde amigos conheciam Tekken, Gran Turismo, Metal Gear Solid, sem nunca chegarem a experimentar um Ocarina of Time, legitimamente mais jogo do que qualquer um dos exemplos anteriores...
Hoje não vejo propriamente uma N64. Até a 360, que tem índices de popularidade paupérrimos em Portugal, gera um buzz mínimo, fruto de novas formas de divulgação (internet à cabeça) que não estavam massificadas à dez anos atrás. No entanto, isso não torna as coisas melhores, sob o ponto de vista do que falo neste texto. Se eu tiver metade dos meus amigos com uma consola e outra metade com outra (à la MegaDrive/SNES, ou primeiros tempos de Saturn/PSX), isso só vai dificultar a uniformização dos conteúdos experienciados. Traduzindo: não vou poder trocar jogos e não vou poder usar a minha guitarra na consola do vizinho; não vou poder comentar com ele o brutal último nível do Braid, porque o jogo não está na PS3. Tudo a título de exemplo, pois uma lista completa das desvantagens em haver múltiplos sistemas não caberia num só texto.

Então, o que o Onlive fez foi por-nos a sonhar. Unir as intra-comunidades dos seguidores de consolas seria um feito titânico. Juntá-las, por sua vez, aos gamers de PC e então teríamos uma homegenização tão perfeita, quanto irreal, aos olhos de quem observa o panorama actual. Este texto não procurou debater os desafios técnicos que um serviço como o Onlive precisará de suplantar. Fica apenas a sugestão de um mundo onde os jogos corressem sempre no nosso sistema, porque ele seria independente do hardware que estaria a transmiti-lo. A minha guitarra funcionaria na PS3 do Hugo e eu e o Mike jogaríamos tranquilamente Street Fighter IV, cada um com o comando que achasse mais conveniente...

Referência:
(1) IGN. GDC 09: Onlive Introduces The Future of Gaming (consultado em Abril de 2009). Disponível em: http://pc.ign.com/articles/965/965535p1.html

1 comentário:

  1. Ai a desculpa do comando no Street Fighter...

    Lol, kidding!

    A perspectiva de um mundo sem barreiras relacionadas com licenças seria, de facto, uma utopia bastante agradável, apesar de complicada, devido à competição feroz predominante nesta indústria.

    Longe vão os tempos em que qualquer um podia fazer jogos para a Atari 2600 e vender, e em que se podia usar comandos Mega Drive na dita consola.

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