2.7.09

Fanboys


Antes de mais queria começar por deixar uma nota em relação à minha ausência no blog há uns meses: os trabalhos/frequências/exames apertaram na faculdade e o pouco tempo livre que tive para escrever foi dedicado ao XTP. Sim, entre o último post e o de agora comecei a colaborar no site Xbox Team Portugal, tendo feito já alguns artigos e notícias no mesmo. Achei oportuno dizer isto, uma vez que o post de hoje é justamente focado no fanboysmo e partidarismo que muitos assumem no mundo das consolas.

A minha escolha pelo XTP deriva não de um amor cego à marca (embora simpatize obviamente com a consola da Microsoft), mas antes de uma admiração sincera pelo trabalho que o site tem vindo a realizar. Em Portugal, existem hoje vários tipos de blogues/sites dedicados a videojogos: os generalistas, os dedicados a uma marca e os temáticos. Isto, fora os pessoais. Em meu ver, os primeiros representam o "mercado" mais saturado e arriscado de se investir, pois a ideia é a mais óbvia e a concorrência dos sites estrangeiros é avassaladora, principalmente numa época onde o inglês se assume como segunda língua dos jovens portugueses da minha idade (e dos que aí vêm atrás).

Posto isto, para mim sobram as duas últimas vertentes. De há poucos anos para cá vinha a seguir com atenção um site/blogue de cada uma dessas vertentes: o XTP, pela dedicação a uma marca e o Rumble Pack, do lado temático. Ambos representam projectos que considero bem estruturados, mas acima de tudo, bem posicionados, enquanto arquétipos. Tive a sorte de poder colaborar num deles e estar mais perto dos bastidores deste tipo de comunidades, experiência que tem sido muito gratificante.

Obviamente que o XTP, à semelhança de qualquer site, tem a sua quota parte de leitores facciosos, mas isso até pode ser encarado por quem escreve como um estímulo, no desafio de tentar tornar as opiniões das pessoas menos quadradas. Como possuidor de uma Xbox 360, o meu jogo preferido nesta consola foi o Braid (mais sobre ele num post futuro...), com um close second do Bioshock e tendo Rockbands e Fifas à parte, porque são experiências mais contínuas. É interessante encontrar-me hoje a escrever para uma comunidade que dá muito mais enfâse a títulos como Halo 3, Call of Duty 4 e afins, porque nem sempre é fácil estar em sintonia com as massas. Um jogo que me tocou de uma forma avassaladora pode nem ter sido jogado 5 minutos pela maior parte do público ao qual me dirijo. A título de exemplo, o jogo não teve análise na Eurogamer Portugal, apesar da recepção brutal que teve na crítica internacional.

O fanboysmo começa aí. Ou melhor dizendo: está associado a todo um estereótipo de jogador que sente necessidade de ter uma consola para amar, uma consola para odiar; um género de jogo para exultar, um género de jogo para insultar. No fundo, o nosso modelo de sociedade incute esta tendência: quando nascemos temos uma religião imposta, ou somos de uma família que ridiculariza-as constantemente; temos um clube de futebol, ou somos de uma família que critica o mundo do futebol, por aí em diante. O meio termo e o bom senso são coisas que não são dadas de bandeja, temos que ser nós a criá-las, através da percepção dessa enorme "esfera" que nos sufoca e enevoa a capacidade crítica.

A propósito disto, em Dezembro passado trabalhei durante todos os fins-de-semana a promover a Xbox 360 (e o Lips...), na MediaMarkt. Achei a ideia fantástica, ia ganhar dinheiro a falar às pessoas de uma consola que jogava diariamente, à priori não parecia nada enquadrado naquilo a que defino como trabalho. À medida que os dias passaram foram surgindo alguns dissabores. À dificuldade inerente de vender uma consola que parte como concorrente de um monopólio, juntou-se o mau humor de muitas pessoas que achavam até ofensivo que eu as abordasse para falar da consola, quase como se as tivesse a desaconcelhar, ou a desencaminhar. Na retina ficou um rapaz que rejeitou veementemente um folheto que eu estendi, fazendo um gesto de crucifixo com os dedos, pelo meio de um urro furioso. E de repente, até pensei que estivesse a promover o PNR ou coisa assim...

Nem tudo foi mau. Existiram (poucas) pessoas que me abordaram para conversar durante 15-20 minutos, indecisas acerca da consola a comprar na quadra natalícia. Controversamente, recomendei PS3 e Wiis com praticamente tanta frequência quanto Xboxs, e se me colocavam questões acerca de hadicaps da consola de que eu tinha conhecimento, era a verdade que obtiam como resposta. "Quer ver filmes em alta-definição? Compre a PS3, porque esta em Portugal não tem marketplace de vídeos."; "Quer algo para jogar com os seus filhos de 5 e 7 anos, em família? Temos aqui o Banjo, o Lego e o Bolt, mas provavelmente seria melhor investir numa Wii, que tem produtos melhor trabalhados no que toca ao jogo familiar...". Caramba, eu cheguei a por-me em cima de uma balança de Wii Fit para ajudar uma senhora. Vestido de camisa verde e tudo...

Fanboys... Lembro-me de sê-lo, também, quando era mais puto. Em plena adolescência, a praguejar pelos cantos pela falta de acessórios para a minha N64. "Raio do homem da loja nem sabe o que é um Expansion Pak!". Tinha discussões infinitas com pessoal que dizia que o Zelda era para putos. De certa forma, a Nintendo é a única marca pela qual fui fanboy: cheguei a comprar uma Gamecube no dia de lançamento, com o Rogue Leader, um jogo que nem sequer faz o meu género. Mas era Nintendo! Vieram-me as lágrimas quando assisti a isto:



Hoje olho para esses tempos e percebo que podia ter vivido tudo de uma forma mais desapaixonada, pelo menos em relação às marcas em si. É que não há retribuição. Nunca. E ainda assim, somos fanboys por marcas, por clubes de futebol, por religiões, por partidos políticos. Idolatramos uma ideia, sem sequer compreendê-la de facto.

O que é a Xbox? Halo ou Braid?

O que é a Nintendo? Wii Fit ou Zelda?

O que é a Sony? Gran Turismo ou Singstar?


Então... para quê?


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